Dizem que é preciso uma vila para criar uma criança e Quel estava no lugar certo. Apesar dos olhos atentos de Zer, sempre havia alguém cuidando, brincando ou alimentando a pequena. Era difícil não se afeiçoar pela gentileza daqueles olhinhos verdes junto ao sorriso de quem ia aprontar no próximo instante.
Por vezes alguém precisava tirá-la do depósito de espadas, o que não surpreendia a ninguém, afinal a menina vivia cercada por jovens treinando e movimentando as lâminas brilhantes.
Seu fascínio pela arma fez com que Zer entalhasse uma espada de madeira, de tamanho adequado para seus dedinhos. Quel passou a carregá-la ao lado do corpo o tempo todo. Quando ficava irritada, puxava sua espada e a bradava com firmeza para quem a tivesse contrariado, arrancando risos de aprendizes e mestres.
Após uma medição óssea feita por Hígo, estabeleceram sua idade e uma data de aniversário – usada por Zer para a celebrar sua chegada na vila e por Quel como uma contagem regressiva para o dia em que poderia finalmente se juntar às aulas com 'espada de verdade', como ela dizia.
Pouco antes do nascer do sol do dia do seu sexto aniversário, Zer se arrumava para sua caminhada meditativa, quando Quel apareceu ofegante na sua frente.
"É hoje! Estou pronta. Quando é a cerimônia?"
A menina usava uma combinação peculiar de roupas simulando um traje de espadachim: calça escura, uma blusa marrom muito maior que seu tamanho presa na cintura por um cinto enrolado duas vezes e lenços coloridos amarrados nos pulsos. Um rabo-de-cavalo alto e torto deixava seus cabelos escuros e lisos caídos para o lado, e o visual se completava com sua pequena espada enfiada no cinto. A ansiedade a fazia quicar de um pé para o outro.
O coração do monge se partiu ao meio ao notar que ele deveria dar a má notícia: a recepção de jovens aprendizes só aconteceria em duas semanas, conforme o calendário oficial. Com a voz o mais acolhedora possível, ele disse:
"Se acalme, pequena! Hoje é o dia do seu aniversário, é dia de celebrar e não de cerimônias chatas." – um sorriso amarelo se estampou em seu rosto.
Quel ficou um pouco em dúvida e falou: "Mas Zer...hoje eu faço 6 anos. Todo mundo sempre falou que quando eu fizesse 6 anos me tornaria aprendiz. Não quero uma festa, quero ser aprendiz! Hoje!"
Zer se agachou, olhou em seus olhos, reuniu toda sua coragem e disse: "A cerimônia de aprendizes só vai acontecer daqui a duas semanas, quando todas as novas crianças se reúnem chegam para a iniciação. Hoje vamos celebrar seu aniversário e em breve, você vai se juntar aos novatos e começar suas aulas, está bem?"
Os olhos de Quel foram inundados com lágrimas. Zer sentiu a dor em sua alma e a abraçou, tentando ao menos confortá-la em meio ao mar de soluços que começou.
Apesar das felicitações, dos pequenos presentes feitos pelos monges, das brincadeiras com os aprendizes mais velhos, do bolo e dos doces preparados especialmente para a ocasião, Quel passou o dia inteiro emburrada.
No final da tarde, uma das aprendizes mais velhas convenceu a aniversariante a brincar de treino, alegando ser uma preparação para sua iniciação, e algum sorriso voltou ao seu rosto. Zer ficou aliviado e se aproximou de Hígo enquanto aproveitava uma das últimas fatias do bolo.
"Será que ela sobrevive às próximas duas semanas? – perguntou ao Vitaris.
Hígo achou graça e respondeu: "Nunca vi ninguém morrer de frustração, meu amigo. É uma boa maneira de aprender certas coisas. As pessoas aqui da vila costumam ser bastante permissivas com ela. E em duas semanas isso vai mudar bastante."
Zer sabia disso. Ele se preparava há meses para isolar seu afeto e manter a postura de mestre quando Quel estivesse em uma de suas turmas, mas não seria fácil. Então se lembrou das palavras de Rhano no dia em que ela foi aceita na vila e resolveu procurá-lo.
Dizem que é preciso uma vila para criar uma criança e Quel estava no lugar certo. Apesar dos olhos atentos de Zer, sempre havia alguém cuidando, brincando ou alimentando a pequena. Era difícil não se afeiçoar pela gentileza daqueles olhinhos verdes junto ao sorriso de quem ia aprontar no próximo instante.
Por vezes alguém precisava tirá-la do depósito de espadas, o que não surpreendia a ninguém, afinal a menina vivia cercada por jovens treinando e movimentando as lâminas brilhantes.
Seu fascínio pela arma fez com que Zer entalhasse uma espada de madeira, de tamanho adequado para seus dedinhos. Quel passou a carregá-la ao lado do corpo o tempo todo. Quando ficava irritada, puxava sua espada e a bradava com firmeza para quem a tivesse contrariado, arrancando risos de aprendizes e mestres.
Após uma medição óssea feita por Hígo, estabeleceram sua idade e uma data de aniversário – usada por Zer para a celebrar sua chegada na vila e por Quel como uma contagem regressiva para o dia em que poderia finalmente se juntar às aulas com 'espada de verdade', como ela dizia.
Pouco antes do nascer do sol do dia do seu sexto aniversário, Zer se arrumava para sua caminhada meditativa, quando Quel apareceu ofegante na sua frente.
"É hoje! Estou pronta. Quando é a cerimônia?"
A menina usava uma combinação peculiar de roupas simulando um traje de espadachim: calça escura, uma blusa marrom muito maior que seu tamanho presa na cintura por um cinto enrolado duas vezes e lenços coloridos amarrados nos pulsos. Um rabo-de-cavalo alto e torto deixava seus cabelos escuros e lisos caídos para o lado, e o visual se completava com sua pequena espada enfiada no cinto. A ansiedade a fazia quicar de um pé para o outro.
O coração do monge se partiu ao meio ao notar que ele deveria dar a má notícia: a recepção de jovens aprendizes só aconteceria em duas semanas, conforme o calendário oficial. Com a voz o mais acolhedora possível, ele disse:
"Se acalme, pequena! Hoje é o dia do seu aniversário, é dia de celebrar e não de cerimônias chatas." – um sorriso amarelo se estampou em seu rosto.
Quel ficou um pouco em dúvida e falou: "Mas Zer...hoje eu faço 6 anos. Todo mundo sempre falou que quando eu fizesse 6 anos me tornaria aprendiz. Não quero uma festa, quero ser aprendiz! Hoje!"
Zer se agachou, olhou em seus olhos, reuniu toda sua coragem e disse: "A cerimônia de aprendizes só vai acontecer daqui a duas semanas, quando todas as novas crianças se reúnem chegam para a iniciação. Hoje vamos celebrar seu aniversário e em breve, você vai se juntar aos novatos e começar suas aulas, está bem?"
Os olhos de Quel foram inundados com lágrimas. Zer sentiu a dor em sua alma e a abraçou, tentando ao menos confortá-la em meio ao mar de soluços que começou.
Apesar das felicitações, dos pequenos presentes feitos pelos monges, das brincadeiras com os aprendizes mais velhos, do bolo e dos doces preparados especialmente para a ocasião, Quel passou o dia inteiro emburrada.
No final da tarde, uma das aprendizes mais velhas convenceu a aniversariante a brincar de treino, alegando ser uma preparação para sua iniciação, e algum sorriso voltou ao seu rosto. Zer ficou aliviado e se aproximou de Hígo enquanto aproveitava uma das últimas fatias do bolo.
"Será que ela sobrevive às próximas duas semanas? – perguntou ao Vitaris.
Hígo achou graça e respondeu: "Nunca vi ninguém morrer de frustração, meu amigo. É uma boa maneira de aprender certas coisas. As pessoas aqui da vila costumam ser bastante permissivas com ela. E em duas semanas isso vai mudar bastante."
Zer sabia disso. Ele se preparava há meses para isolar seu afeto e manter a postura de mestre quando Quel estivesse em uma de suas turmas, mas não seria fácil. Então se lembrou das palavras de Rhano no dia em que ela foi aceita na vila e resolveu procurá-lo.
Próximo capítulo:
Capítulo 6
“...uma lâmina empunhada com leveza, concentração e técnica, pode ser mais rápida do que o vento ou a água, mas para encontrar esse estado, é preciso estar em equilíbrio. Mantenham a espada sempre ao seu lado e façam com que ela seja parte do seu corpo. Mantenham o coração em paz e façam com que ele seja a principal arma. Reforcem a meditação essa seman…