💃 Dançando fora do quadro
Reflexões de vida a partir das dancinhas do TikTok. E o golpe da Pequena Sereia em Copenhague.
Vi um vídeo nas internets que mostrava uma moça nos seus 30 e poucos anos e uma menina de uns 12 comparando a coreografia das músicas de axé dos anos 1990 com as dancinhas do TikTok atuais.
Não achei o vídeo para colocar aqui, me desculpe.
Mas uma coisa me chamou a atenção: os movimentos no axé do século passado (rs) são mais espalhafatosos. Se você conhece alguma música da época, você sabe do que eu estou falando. Você joga os braços para cima, gira, desce até o chão, dá três passinhos pro lado e escorrega as mãos da cabeça aos pés.
Já nas coreografias de hoje, os movimentos são muito mais contidos e eu acredito que isso aconteça porque a dança precisa caber na tela.
Fiquei com isso na cabeça e não parei mais de reparar. Até em um reality de competição de drag queens que eu assisto, notei que as participantes mais jovens – chamadas drags de rede social - dançam dentro de um espaço limitado invisível.
Vou mudar de assunto, mas depois vai fazer sentido. Espero.
Estava passeando pelo meu Instagram e vi uma foto que tirei ano passado.
Já vi essa foto algumas vezes, mas sempre me pego admirando o céu, as árvores e, claro, o arco-íris. Acho um bom enquadramento uma das coisas mais elegantes dessa vida e me esforço para que meus registros evidenciem exatamente o que eu quero mostrar. Inclusive sou mestre em tirar fotos de lugres lotados sem parecer que há uma viva alma. Pergunte-me como.
Até que me lembrei, pela parte de baixo da foto, que eu estava em uma das avenidas mais movimentadas do mundo. Havia uma quantidade enorme de carros, pessoas, lojas, mas eu escolhi fazer um registro neutro daquele arco-íris.
“Mas Lili, se aparece um arco-íris na Champs-Élysées, você tira uma foto da Champs-Élysées com o arco-íris, né? E o Arco do Triunfo atrás pelo menos!”
Não. Eu fiz zero registros como esse naquele dia. Eu escolhi deslocar a moldura para aquilo que eu acreditava ser mais importante, mesmo não sendo o senso comum.
E essa minha “transgressão” visual me lembrou das dancinhas contidas do TikTok, porque cada vez mais vivemos dentro e para caber nas molduras da vida. E assim como os aparelhos celulares, as telas ficam cada vez menores.
Desde a escola aprendemos a estudar de um jeito padronizado, desrespeitando nossas preferências individuais. Quando estamos em grupo, imitamos os outros colocando o pertencimento acima de nossas vontades. E fazemos escolhas contrárias aos nossos valores para evitar o julgamento alheio.
Quantos esforços você fez recentemente para caber?
Deixo claro que isso não é um chamado a rebeldia pura e simples. Se eu escrevesse esse texto anos atrás, possivelmente diria de maneira inflamada para quebrar os padrões e formatos pré-fabricados, mas não é preciso.
É só deslocar a moldura. Olhar para o mundo por outra perspectiva, evidenciar aquilo que de fato você quer colocar em foco e navegar pelo senso comum sem perder sua identidade. É evitar que a nossa visão de mundo seja idêntica à de todo mundo, por que...
A necessidade de caber, acaba com a liberdade de criar.
Acaba com a liberdade de escolher.
E acaba com a liberdade de ser.
Não existe “felicidade de rebanho”. Qualquer movimento de boiada nesse sentido é uma sentença de infelicidade para a grande maioria 😔
Não quero terminar esse texto com dicas clichês, mas às vezes é bom saber por onde começar, então vamos lá:
· Não pare de estudar, encontre seu jeito de aprender.
· Tire fotos menos óbvias e exercite ver o diferente, o marginal - o que está fora da margem, não o bandido.
· Use as redes sociais do jeito que você quiser, mesmo que seja só você fazendo isso.
· Faça caminhos diferentes para os mesmos lugares – ok, aqui eu fui clichê demais, vou parar.
E dance.
Do jeito que você quiser 💃
🇩🇰📷Enquanto isso no Reino da Dinamarca
Essa semana e a próxima estou em Terra Brasilis, mas vi muita coisa curiosa nos meus primeiros 47 dias morando na terra da Rainha Margarida.
A Dinamarca é um país sensacional, recomendo a visita, mas faço um alerta: cuidado com o golpe da Pequena Sereia.
A verdadeira história e o conto original da Pequena Sereia, foi escrito do século XIX pelo dinamarquês Hans Christian Andersen.

Hans Christian Andersen é uma entidade importante por aqui, então em 1913, Edvard Eriksen esculpiu uma estátua da personagem que fica aqui em Copenhague.
O golpe: todo mundo vai te dizer que precisa ir à estátua, né? É um símbolo da cidade (?!) O lance é que ela tem 1 metro e 25cm de altura.
Você chega lá e é só isso mesmo que tá na foto. Pra piorar é preciso dar uma boa caminhada por um local que geralmente venta muito. E o vento na Dinamarca é pior que o frio.
Então se você visitar o Reino da Dinamarca fora do verão e quiser ver a estátua, vá por sua conta e risco. Estão avisados.
Pra finalizar, encontre a pequena sereia nessa imagem que fiz ontem:
Até mais!