⚽ Decisões simbólicas e a Copa do Mundo
Pequenas (ou grandes) escolhas podem revelar muito sobre quem você é. É só prestar atenção.
English version is here :)
Vi um vídeo esses dias da Ana Paula Padrão contando o que fez com seu primeiro salário e fui imediatamente levada a me fazer a mesma pergunta.
A resposta veio fácil. Eu tinha 17 anos, tinha conseguido um emprego como recepcionista de uma empresa de segurança privada. Acho que ganhava uns R$ 600 por mês e a primeira coisa que comprei foi um Discman parcelado em 6x.
O Discman era um tocador de CD portátil. E considerando que você precisava dele, do fone, das pilhas e, claro, dos CDs, hoje ele talvez não ganhasse esse adjetivo, mas eu o carregava pra todo canto, com o maior cuidado pra não ferrar a lente.
Vocês se lembram que qualquer tocador de CD tinha uma lente? Era uma pecinha interna, abaulada, de vidro, que lia o CD e era preciso ter cuidado para não arranhar ou quebrar. Caso isso acontecesse, o tocador já era.
Na época eu fazia faculdade particular sem poder pagar a faculdade particular. Me matriculei na cara e na coragem, e fui atrás de um emprego que me ajudasse a chegar no diploma – o que não aconteceu dessa maneira, porque meu salário tava longe de pagar a mensalidade e no final eu consegui ir para uma faculdade pública (beijos, UFF!).
Achei curioso que, mesmo com responsabilidades financeiras, no momento em que tive o primeiro dinheiro meu, eu comprei um objeto que me proporcionava levar a música comigo.
Os motivos para essa compra poderiam ser outros: ostentar o aparelho por aí, passar o tempo em viagens ou em longos trajetos, mostrar músicas novas para outras pessoas, mas no meu caso, a minha relação com a música já era muito profunda. Tão profunda que 9 anos depois eu tatuei a música em mim, mesmo morrendo de medo de agulha, mas isso é papo pra outro momento.
O lance é que algumas decisões da vida podem ser muito simbólicas. E podem dizer muito sobre nós mesmos, mas acabamos não dando a devida atenção.
Vocês já brincaram sério sobre ganhar na megasena? Sei que parece inútil, mas eu acho um exercício tão poderoso. O que você faria de verdade se tivesse muito muito muito dinheiro? Qual seria sua primeira decisão? O que você manteria na sua vida? Para quem você contaria? Como contaria? Ajudaria alguém?
Aqui você pode encontrar bons indícios sobre aquilo que você valoriza na vida. Tem quem sairia viajando imediatamente. Tem quem compraria diversos imóveis. Tem quem ficaria na miúda e não contaria pra ninguém.
Outra pergunta poderosa, que eu sempre uso e indico é sobre a frustração. Toda vez que me deparo com um dilema, me pergunto: daqui a ‘x’ tempo, o que vai me frustrar mais não ter escolhido? Nem sempre a resposta é exata, mas te faz enxergar o problema de um outro ponto de vista.
É como fazer uni-du-ni-tê e não gostar do resultado. Você acaba achando a sua resposta.
Na Copa do Mundo de futebol masculino de 2014, realizada no Brasil, eu me inscrevi para o sorteio de compra de ingressos e, por R$ 660, consegui 4 entradas para a final no Maracanã. Eu simplesmente não acreditei que tinha conseguido, principalmente porque foi o único jogo que eu me inscrevi.
E o que acontece quando você tem ingressos para um evento tão cobiçado? Uma enxurrada de propostas de compra. R$ 3.000, R$ 4.000, R$ 5.000...por um ingresso que paguei R$ 165. No final, acabei vendendo dois ingressos por R$ 7.000 cada. Acho que nunca na vida vou fazer outro “investimento” com tanto retorno.
Mas havia ainda dois ingressos, o meu e o do meu namorado. E enquanto a Copa rolava, mais lances eram dados.
Para quem não sabe, eu AMO a Copa do Mundo de futebol. Eu sofro em cada jogo. Fiz mil malabarismos para assistir aos jogos da seleção feminina esse ano aqui na Dinamarca (obrigada, Casimiro, pela transmissão pelo YouTube) e, durante minha adolescência, fui frequentadora assídua de jogos no Maracanã.
Já pensou na possibilidade de assistir ao Brasil numa final de Copa do Mundo masculina no Maracanã?! Só de lembrar eu já arrepio, mas os lances para meus ingressos restantes já estavam em R$ 10.000 cada.
E então veio o 7x1 e o Brasil foi eliminado 😭
A tristeza profunda que me abateu não chegou nos corações dos compradores, porque os lances pelos meus ingressos continuarem aumentando. Além do Brasil estar fora da copa, a mesma pessoa que comprou os primeiros dois ingressos ofereceu R$28.000 pelos outros dois.
Eu sei o que você deve estar pensando: “isso já nem é mais um dilema, é só uma escolha muito fácil!”
Como escrevi lá em cima, algumas escolhas podem ser simbólicas. Para alguns a decisão era fácil, mas para mim, estava longe de ser. Então me perguntei: daqui a um ano, o que vai me frustrar mais, ter perdido a chance de ir a final da Copa no Maracanã ou a chance de ganhar os R$ 28.000 mais fáceis da vida?
Isso foi há 9 anos e não há UM ÚNICO DIA que eu tenha me arrependido de assistir aquela partida tensa entre Argentina e Alemanha. Eu estava bem atrás do gol quando a Alemanha marcou na prorrogação e levou a taça pra casa. E ainda levei meu namorado, que hoje é marido, para viver sua primeira experiência em um estádio – ele não liga para futebol e muito menos para a Copa, mas vivemos uma memória juntos que não tem preço.
E você?
· O que fez com seu primeiro salário?
· Quais foram as suas decisões simbólicas?
· O que faria se ganhasse R$ 78 milhões na mega sena?
Quando a gente descobre aquilo que valoriza de verdade, fica muito mais fácil bancar quem a gente é pro mundo.
Té mais! 🌻