Já era madrugada quando os três irmãos saíram da taverna rindo alto, ainda cambaleantes pela comemoração da noite.
“Agora que somos famosos, podemos cobrar muito mais caro pelos nossos serviços!” - a empolgação de Stan, o mais novo, era admirável. Olhando para o alto como se discursasse para uma multidão, ele complementou: “Irmãos Salas, os caçadores de recompensa mais astutos da região!”
Aos tropeços, os outros dois riram da atuação e o mais velho falou: “Sinto te decepcionar, mas acho que nossa fama acabou quando pagamos a última rodada de bebidas da noite.”
“Rian tem razão, Stan, somos tão bons quanto nossa última tarefa, mas devo admitir que ele foi deveras esperto quando percebeu Ralho Tonto disfarçado de mulher naquela trupe itinerante.” E fez uma reverência debochada para o irmão.
“Espera aí! Ele só notou que era um disfarce porque EU pisei na saia dela. Pode ter sido sem querer, mas eu fui o responsável por acabar com 10 anos de disfarce daquele desgraçado procurado. Quero minha reverência também!”
“Mil perdões, vossa majestade!” – então Aran se curvou de maneira ainda mais debochada na frente do caçula que pulou nas suas costas e fez os dois caírem rindo sobre as raízes de uma árvore alta da floresta. Eles já estavam longe da estrada principal há algum tempo.
“Vocês parecem bem acomodados no pé dessa árvore, mas eu preciso de uma cama confortável.” Rian estendeu os braços para ajudar a levantar os irmãos mais novos e enquanto limpavam as folhagens de suas roupas, um brilho oscilante apareceu há poucos metros, tomando uma forma humana translúcida.
Os irmãos deram alguns passos para trás, mas a figura já estava muito perto quando falou: “Irmãos Salas, os caçadores de recompensa. Tenho um trabalho para vocês.”
O sangue na veia dos homens parecia ter congelado e o bater acelerado de seus corações era quase audível. Eles mal conseguiram se entreolhar e nenhuma resposta foi possível.
Bedrag não estava acostumado a ser recebido assim e amaldiçoou Satiri por não conseguir assumir sua forma humana usual. “Vai ser bem mais difícil assim”, pensou com raiva. Então fez aparecer três baús cheios de ouro na frente dos irmãos, ainda petrificados de medo.
“Preciso que vocês encontrem uma menina. Ela tem por volta de três anos e se perdeu por essas florestas.” Levantando o braço direito transparente até a altura do rosto, Bedrag complementou: “Ela possui uma marca aqui, na lateral externa do antebraço direito, três pontos equidistantes como as estrelas da antiga constelação de Osíris.”
Os três homens permaneciam estáticos e mais pálidos que mármore.
“Ei! Vocês entenderam?” – gritou Bedrag impaciente.
Como se saíssem de um transe, os irmãos começaram a balbuciar ao mesmo tempo: “Uma criança...3 anos...marcas no braço...”
“Muito bem. Quando a encontrarem, receberão muito mais do que três baús. Fiquem com isso.” Bedrag entregou nas mãos do mais velho um cordão com um pequeno apito dourado. “Quando a encontrarem, soprem e eu virei buscá-la.”
A figura translúcida sumiu e ficaram apenas os três rapazes de frente aos baús de ouro no silêncio da madrugada.
Os mais jovens olharam para Rian, que analisava curioso o cordão de ouro em sua mão, até Aran perguntar perplexo: “O que foi isso?!”
“Eu acho que...é um novo trabalho.” O jovem pendurou o apito em seu pescoço e se voltou para os baús brilhantes. “Mas antes, vamos verificar isso aqui.” E começou a alisar as moedas na caixa a sua frente. “É ouro de verdade.”
Enquanto o mais velho vasculhava o baú, Stan irrompeu: “Isso não é um novo trabalho...isso foi uma missão dos deuses.” O irmão do meio, ainda observando os baús com cautela, falou: “Acho que o Stan tem razão, Rian...o ouro é só uma prova de que essa tarefa é especial.”
O mais velho não pareceu afetado pela responsabilidade: “Sim, deve ser bem especial mesmo, esse baú tem uma fortuna. Sabe quantos trabalhos seria preciso para alcançarmos esse tanto?”
Agachando-se ao lado do irmão, o mais novo proclamou: “Rian, nós fomos escolhidos para servir aos deuses. Nenhuma fortuna se compara a isso”. Com um olhar incrédulo, Rian respondeu ironicamente: “Concordo. Se preferir, posso ficar com seu ouro, ó Escolhido!”
“Talvez tenha sido um teste de fé. Os deuses podem estar nos observando para ver o que faremos com esse presente.” – Aran interrompeu os irmãos com medo.
“É isso! Precisamos usá-lo com sabedoria. Para realizar a missão!” - Stan fechou seu baú com entusiasmo e o colocou debaixo do braço. “Vamos encontrar a criança e fazer jus à escolha dos deuses.”
Cético, Rian respondeu: “Vamos fazer o trabalho. E depois veremos o que os deuses têm a nos oferecer”.
E seguiram pela floresta junto aos primeiros raios de sol.
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Próximo capítulo:
Capítulo 5
Dizem que é preciso uma vila para criar uma criança e Quel estava no lugar certo. Apesar dos olhos atentos de Zer, sempre havia alguém cuidando, brincando ou alimentando a pequena. Era difícil não se afeiçoar pela gentileza daqueles olhinhos verdes junto ao sorriso de quem ia aprontar alguma coisa no próximo instante.