No final do dia, o trabalho de guardar as quinquilharias restantes das ciganas não foi demorado – o dia havia sido tão produtivo quanto as mulheres haviam previsto e elas queriam comemorar. Imerso em seus próprios pensamentos ao dobrar as últimas lonas, Rian não notou quando uma das mulheres chegou com dois galões de vinho e canções começaram a ser entoadas.
“Rian, meu amor, hora da sua recompensa!” – duas ciganas se enroscaram libidinosamente em seus braços o puxando para o meio da roda de mulheres, cantando e dançando ao som de palmas cadenciadas e do barulho de suas saias cheias de adornos farfalhantes.
Até a manhã daquele dia, festejar, se perder naquele grupo e acordar em um vagão aleatório da trupe itinerante no dia seguinte era sua prioridade, mas tudo havia mudado.
Por muito tempo, quando não terminava a noite entorpecido pelo álcool, Rian adormecia olhando para o pendente de ouro se questionando se a tal missão era real. Se a criança existia. Se ele realmente ganhou um baú de ouro de uma entidade divina no meio da floresta 12 anos atrás. A cada ano, ele duvidava mais da própria história, ainda mais considerando os rumos tortuosos de sua vida como caçador de recompensa.
Agora ele tinha certeza: o trabalho era de verdade. A menina...a amiga a chamou de “Quel”...era real. As marcas, a idade, faziam tudo se encaixar. Ele sabia onde ela morava e sabia também por que não havia sido encontrada antes. “Uma aprendiz de espadachim, usando munhequeiras o tempo todo, um golpe cretino do destino.” – pensou e riu.
Apesar da empolgação pelo achado, Rian debatia consigo. Uma voz berrava em seu âmago a verdade: ele precisava da ajuda dos irmãos para finalizar o trabalho. Do outro lado seu orgulho refutava essa possibilidade. O conflito o consumia desde a visão da menina sumindo na multidão, o impedindo de agir imediatamente.
Ao sentir mãos delicadas levando seu corpo na direção da música, o rapaz voltou a atenção para o seu redor num sobressalto. O cheiro do vinho e das essências usadas pelas mulheres se aglomerando ao seu redor era inebriante. Mais alguns instantes ali e ele esqueceria da menina até o dia seguinte, mas não era hora para isso. Ele não tinha tempo a perder.
Retirando gentilmente as mãos que o acariciavam, Rian se esgueirou para fora do grupo festivo, atraindo olhares de estranheza das mulheres: “Minhas donzelas, vocês sabem...a companhia de vocês é meu bem mais precioso, mas hoje infelizmente, outro dever me chama.”
Uma cigana mais velha se aproximou e passou a mão em seus cabelos: “Seu dever é com nossa comemoração, Rian, você também merece esse momento por ter nos protegido o dia inteiro nessa aldeia cheia de perigos.” – cada palavra era proferida com um toque de sedução e foi seguida de concordância das demais.
Sem firmeza não seria fácil sair dali, mas Rian estava determinado: “Faremos uma comemoração ainda maior quando eu voltar. Por ora, aproveitem sem mim, mas bebam por mim.” – devolvendo o charme recebido, o rapaz beijou a mão da mulher e se afastou rapidamente antes de realizarem mais uma tentativa de retê-lo.
Suas passadas aceleradas pela rua principal da aldeia foram perdendo a firmeza conforme ele se aproximava do final da via: a tenda montada para o grande evento dos seguidores das 3 estrelas. Sua lentidão poderia ser explicada pelo fato de estar indo contra o fluxo de pessoas vindas na direção contrária – o espetáculo religioso havia terminado, pensou – mas era na verdade um atraso proposital, um tempo extra para buscar as palavras certas para dizer aos irmãos após quase três anos.
Ao chegar na entrada principal da tenda, Rian parou. O fluxo de pessoas saindo o deu alguns instantes para avaliar sua aparência, não queria parecer maltrapilho. Sua túnica cinza e seu cinto marrom estavam desfiados pelos anos de uso, mas pareciam limpos. Suas calças, por sua vez, exibiam manchas permanentes de quem trabalhava com a lida dos animais. Rian ergueu os braços e mergulhou o nariz nas axilas verificando se exalava algum odor desagradável. “Pelo menos hoje não foi dia de esterco.” – pensou. Com as duas mãos alisou seus cabelos pretos lisos até o ombro e seu rosto...bem, ele sabia estar apresentável. Depois do apito recebido de Bedrag, esse era seu principal patrimônio.
Quando as pessoas pararam de sair da tenda, era hora. Seu coração disparou de medo e sentiu uma pontada de alegria. O menino Rian só queria um abraço dos irmãos, mas ele tinha dúvidas de como seria a recepção.
“Eu encontrei a criança.” – esse pensamento era sua âncora para seguir em frente com o encontro.
Se por fora o lugar parecia apenas uma tenda branca enorme, a realidade do seu interior era outra. Dezenas de bancos de madeira clara estavam milimetricamente posicionados lado a lado em quatro colunas desde a entrada até o altar - uma mesa alta, com mais de dois metros de comprimento, sobre duas colunas grossas e lisas. A peça inteira era dourada e entalhada com esmero, das quinas até onde tocava o chão. Rian não podia acreditar ser feita toda de ouro.
Nas laterais do lugar pendiam delicadas gaiolas de vidro em diferentes alturas e tamanhos - as velas acesas em seu interior tornavam o cenário um deleite para o olhar. A disposição de todos esses elementos parecia apontar para o espaço onde a tenda era mais alta: a tapeçaria escura de tamanho infinito cobrindo tudo o que se via atrás do altar. A sensação era de olhar para o céu da noite mais escura, salpicado de estrelas de vários tamanhos, com uma profundidade que enganava os olhos. Ao centro da peça, a única parte clara: a conhecida silhueta da criança sentada com três estrelas em arco flutuando sobre sua cabeça.
Alguns homens usando túnicas brancas e mulheres com vestidos-uniforme cinza organizavam o lugar. Rian se sentiu imundo dentro daquele ambiente tão impecável e cogitou ir embora, mas foi surpreendido por um grito animado vindo do meio do salão.
“Irmão!” – Aran largou uma pilha de pergaminhos em um dos bancos e correu na direção de Rian com um sorriso enorme. Sem cerimônia alguma, o rapaz abriu os braços em sua túnica branca e envolveu o recém-chegado com sinceridade. Apesar das vestimentas distintas, os dois continuavam muito parecidos - a diferença de um ano de idade somente era percebida pelos poucos centímetros que faltavam para Aran alcançar seu irmão mais velho.
“Finalmente você voltou!” – a alegria quase infantil do rapaz preencheu o coração de Rian de uma maneira inesperada. Tudo parecia se encaixar novamente.
Ao se soltarem do abraço demorado, Rian falou: “Você não imagina como é bom te ver de novo.” Sua felicidade se misturava a um alívio imenso em encontrar o irmão do meio antes de rever o caçula.
“Quase três anos, não? Como você pode ficar longe tanto tempo assim, Rian! Senti tanto sua falta. Era bom dividir as obrigações religiosas com nossas atividades não-tão-religiosas-assim. As tarefas nos templos estão cada vez mais exigentes e Stan...” – o jovem falava como se precisasse desesperadamente desabafar com alguém não vestido de branco, mas foi interrompido:
“Eu encontrei a criança, Aran.”
Por alguns instantes, os dois se olharam em silêncio. Aquelas palavras eram pesadas.
“É sério?” – o assunto não agradava Aran. Ele culpava a tal missão pela briga entre seus irmãos e, desde a partida de Rian, não havia tocado diretamente nesse assunto com Stan.
“Sim. E não está muito longe daqui. Mas eu preciso de vocês para terminar o trabalho.”
Uma sombra de decepção cobriu a alegria do jovem de branco e Rian corrigiu a dureza de suas palavras.
“Ei! Eu senti muita falta de vocês, de verdade. Mas eu não podia voltar sem cumprir com essa responsabilidade. Você sabe disso...”
Aran abriu um sorriso de canto de boca e falou: “Eu tinha esquecido do quanto você é um camarada orgulhoso. E teimoso!” – e arrancou um riso contido de concordância do irmão.
“O que importa é que você voltou! E a gente tem muita coisa para conversar, mas antes...você precisa de uma audiência com o Sumo Sacerdote. Vou ver se ele pode recebê-lo ainda hoje.” – a piadinha de Aran fez Rian bagunçar seu cabelo preto, um pouco mais curto que o seu, assim como fazia quando eram crianças.
“Hora de enfrentar o Sumo Sacerdote Caçula.” – e os dois seguiram na direção do intimidante altar.
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Diferente do salão principal, a pequena extensão da tenda na parte de trás do altar era um espaço simples, uma sala de descanso e depósito dos materiais usados no evento, Ali também ficavam os baús abarrotados de doações coletadas durante o sermão antes de serem levados para locais mais seguros. Stan dava instruções para alguns serviçais de túnica branca quando a dupla entrou no recinto.
Ao notar o visitante em roupas mundanas, o sacerdote abriu um sorriso largo e bradou do meio da sala: “Irmão! Você voltou!” – A efusividade do homem causou certo estranhamento em Rian.
O irmão Salas mais novo agora usava uma barba cheia, de cor clara, acompanhando seu cabelo curto. O rosto parecia envelhecido, mas seus movimentos ágeis ainda eram de um garoto. Ele abriu os braços e andou na direção de Rian exibindo a riqueza de detalhes em prata de sua túnica branca coberta pela estola preta lisa, feita em um tecido brilhante.
“Irmãos e irmãs, por favor, nos deixem a sós. Temos muito a conversar em família.” – a solicitação feita com autoridade fez os demais se curvarem rapidamente e deixarem o lugar.
Quando a última pessoa saiu, a voz de Stan mudou radicalmente. O sorriso foi embora e a aparente alegria deu lugar a um tom sisudo: “Aran, verifique a saída.” O rapaz foi até a fenda da lona e olhou para fora, conferindo se todos já haviam arrumado uma nova tarefa. “Estamos a sós.” – ele confirmou.
Os conflitos do passado entre os dois irmãos arrumaram um lugar dentro da sala e se acomodaram para assistir à conversa que nenhum dos dois intencionava começar. Naquele ambiente de poder e ostentação, onde seu irmão caçula ocupava o lugar mais alto, Rian sabia que seu único trunfo era a informação sobre a menina. O desconforto o fez novamente cogitar ir embora e encontrar outro jeito de seguir sua jornada sozinho, sem a necessidade de se curvar àquele circo.
“O que o trouxe de volta? Até onde sei você já reside no fundo do poço há um bom tempo e parecia confortável lá.” – o desdém de Stan foi um golpe inesperado em Rian, mas ele não podia parecer fragilizado.
“Sentiu tanto minha falta que andou me espionando, irmão? Você sabia disso, Aran?” – ao se virar para o rapaz apequenado no canto da sala, percebeu um semblante de culpa.
“Mantivemos alguém de olho em você para garantir que você estava be...” – a fala de Aran foi atravessada pela voz afiada de Stan: “...para garantir que você não faria nenhuma besteira e colocasse nossos negócios em risco.”
A informação bateu mal em Rian e agora ele também sofria com o peso da vergonha dos últimos anos vividos entre bebedeiras e trabalhos malsucedidos. A única vantagem desse estilo de vida foi fortalecer seu orgulho para driblar humilhações. Para quem morava no fundo do poço, a resiliência era sua melhor amiga, e seu rosto não transparecia a dor das ofensas recebidas.
“Ainda não entendo por que você foi embora, sabia? Pensou que a vida sozinho seria fácil?” – Stan deu um riso sarcástico – “A vida precisa de recursos, articulações e muito jogo político para dar certo, Rian. Mas eu tenho certeza de que você não entende nada disso. Prefere uma garrafa de bebida a saber o que vai comer no dia seguinte.” – a altivez de Stan só tinha aumentado nos últimos anos.
Em seu íntimo, Rian havia se preparado para esse cenário. Ele sabia que suas escolhas de vida não eram objeto de orgulho e estava ciente que Stan o machucaria com um discurso cheio de moralismo. Porém, ele não havia se curvado antes e não o faria agora. Seu irmão possuía muito elementos de poder: ouro, conexões, status...mas a informação mais preciosa de todas estava com ele.
“Já terminou o sermão ou quer continuar chutando cachorro morto? Porque eu posso muito bem ir embora agora com a informação que trouxe e nunca mais voltar. Onde está sua humildade, ó Sumo Sacerdote?” – a declaração do irmão mais velho afetou a postura de Stan. Há anos ninguém o interpelava dessa maneira.
Acostumado a ter vantagem nas discussões, Stan entrou em uma postura defensiva e assumiu o silêncio como sua melhor jogada. Rian sempre pareceu confiante mesmo quando estava errado, mas ele não teria voltado se fosse apenas um blefe.
“O seu irmão bêbado, fracassado e sem recursos, encontrou a criança.”
Um silêncio grosseiro se colocou entre os dois enquanto Stan processava a notícia. Seu olhar seguro deu lugar a pupilas alargadas e sua sobrancelha se ergueu de maneira involuntária. A frieza costumeira deu espaço para uma curiosidade repentina: “Como você sabe que é a criança?”
“Eu vi as marcas de perto.” – dar somente a informação necessária foi a estratégia adotada pelo rapaz de cabelos pretos.
A mente calculista do irmão caçula começou a maquinar possibilidades. Teria Rian motivos para mentir? Não parecia ser o caso, mas ele precisava confirmar.
“Se você tem certeza, porque ela não está aqui?” – um desafio disfarçado de pergunta.
“Precisamos resolver isso juntos. Sua localização é de difícil acesso.” – A conversa seguia como um jogo de xadrez, onde o movimento do oponente ditava até qual casa o adversário poderia se mover.
“Desembucha, Rian. Onde está a criança?”
“É aprendiz, na vila dos monges espadachins.” – revelou.
O cérebro de Stan disparava em diversas direções. As informações pareciam coerentes e ele sabia como funcionava o orgulho do irmão. Rian não faria essa aposta se não tivesse todas as cartas na mão. Ao mesmo tempo, ele precisava ser cauteloso para não se arriscar em um terreno tão incerto.
“Como você pode ter certeza?” – a desconfiança de Stan começava a divertir o irmão.
“A idade bate com a época do recebimento da missão. E as marcas...são um desenho exato da descrição que recebemos naquele dia na floresta.” – o irmão mais novo ouviu em silêncio, esperando mais informações para alimentar o seu lado daquela partida.
“Também ouvi, da boca da criança, que vocês são ‘uns lunáticos de túnicas brancas’ e ela nunca chegaria perto de vocês.” - O sorriso irônico do charmoso rapaz acendeu uma faísca de raiva no irmão caçula.
“Ainda assim, nada o impede de estar mentindo.” – Stan o provocava com frieza para não lidar com a possibilidade de ter sido subjugado pelo irmão na missão.
“Eu não sinto prazer algum em ser humilhado, em trabalhar com esterco ou não ter onde dormir. Ainda assim, nunca vim aqui mendigar ajuda, sempre me virei. Eu parti para procurar a criança e só voltei porque a encontrei. Se você não quiser acreditar, eu vou embora. Talvez eu tenha um pouco mais de trabalho, mas como falei: eu me viro, estou acostumado a receber “nãos”. Já você, irmãozinho, vai dormir o resto dos seus dias com a dúvida se eu concluí ou não esse trabalho. A escolha é sua: ou eu saio e nunca mais volto ou você acredita em mim e fazemos isso juntos.”
Apesar da satisfação por tudo o que construiu e da crença real em sua missão divina de espalhar as bençãos das três estrelas para o maior número de crianças possível, sempre pairou uma dúvida silenciosa em Stan sobre a existência de uma criança procurada pelos deuses. O retorno de Rian atiçava esse lugar e ele não conseguia fugir da necessidade de desvendar esse mistério.
“Ok, vamos considerar que você esteja falando a verdade.” O sacerdote levou a unha do dedão da mão esquerda aos dentes em um movimento nervoso. Seus olhos indicavam ideias fervilhando em sua mente, então se virou para Aran em um estado elétrico.
“Quantas vezes já tentamos entrar lá?” – perguntou ao rapaz de branco.
“Pelo menos umas 5 vezes. Eles são bastante fechados em relação à visitantes, especialmente na área dos aprendizes.” – a conversa agora parecia continuar dentro da cabeça do sumo sacerdote, andando de um lado para o outro mergulhado em seus pensamentos.
“Com a ajuda de alguns homens, eu posso entrar e sair com a criança...” – a fala do irmão mais velho fez o caçula despertar de seu monólogo interior.
“Ficou doido?” – Stan o olhou ferozmente – “Não se invade um lugar daquele tamanho, ainda mais considerando a natureza do que é ensinado ali. Isso está totalmente fora de cogitação.”
“Certo, então comece a compartilhar o que você tem em mente, irmãozinho.”
“Precisamos de um bom motivo para entrar lá. E algumas articulações, talvez pedir alguns favores. Precisamos de inteligência, entender como funciona o lugar e todas as informações possíveis sobre a criança. Como ela é?” – o rapaz barbudo olhou para Rian e parou, esperando mais.
O sutil levantar do canto da boca do jovem caçador de recompensas foi o xeque-mate da conversa: “Dessa parte cuido eu, Stanzinho. Não vou te entregar todo o ouro de bandeja. Vim para articularmos um plano dos Irmãos Salas e espero que você volte a me tratar como tal. Dependendo do seu comportamento, talvez eu te passe mais alguns detalhes.”
Uma fera rugiu de ódio dentro do sacerdote, mas ele havia aprendido a manter sua expressão impassível mesmo quando se sentia derrotado. Usando cada fibra de seu corpo para articular as palavras, ele ainda falou: “Você ainda tem o...” – e baixou seus olhos para o pescoço do irmão.
“É óbvio, está em um lugar seguro longe daqui. Assim que estivermos com a criança, eu busco o apito. Agora vou deixá-lo com seus pensamentos e voltamos a nos falar em breve, irmão.” – virando-se para Aran, o triunfante rapaz falou: “Onde posso tomar um banho?”
“Venha comigo.” – apesar da tensão do encontro, o jovem de túnica branca guiou seu irmão mais velho para fora da sala com o coração acalentado por reviver aquela tão conhecida dinâmica familiar.
Novos capítulos todas as sextas-feiras 🌻
O que já rolou em Greenfar:
Prólogo: O começo de Greenfar
Capítulo 1: Sozinha na floresta
Capítulo 2: Marcas
Capítulo 3: Zelas
Capítulo 4: Escolhidos?
Capítulo 5: Tempestades
Capítulo 6: Ghraul
Capítulo 7: Ramira
Capítulo 8: Quase 10
Capítulo 9: Que na busca permaneçamos
Capítulo 10: Enfim, lâminas.
Capítulo 11: Espada de honra
Capítulo 12: Pensamentos intrusivos
Capítulo 13: Batalhas dentro e fora
Capítulo 14: Relaxe e lute
Capítulo 15: Estrelas negras
Capítulo 16: Barulhos
Capítulo 17: Golpe baixo
Capítulo 18: Tudo doía
Capítulo 19: Raiva e orgulho
Capítulo 20: Mãozinha
Capítulo 21: Que comecem as celebrações
Capítulo 22: O colar
Capítulo 23: Mentiras
Capítulo 24: Mais decepções
Capítulo 25: Entre lágrimas e golpes
Capítulo 26: Diário de Mestre Rhano
Capítulo 27: Na sarjeta
Capítulo 28: A parte que faltava
Capítulo 29: O lendário de Além-mar
Capítulo 30: Tarefas indesejadas
Capítulo 31: A vida lá fora
Capítulo 32: As marcas originais